RaphaGAmbit Pesquisas

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Aprendendo o Parkour...


O tempo voa - Já faz mais de três anos que pratico Parkour e confesso: somente agora estou começando a aprender. Descobri que existem estágios. Sempre que observava alguém mais experiente treinando, me sentia um pouco travado, constrangido ou até mesmo na obrigação de fazer igual a este. Porém quando saltamos alguns estágios e achamos que evoluímos, estamos totalmente equivocados e percebemos isso quando sentimos que “estacionamos” - não tem como evoluir mais.


Aprendi que não adianta apenas tentar fazer um movimento, é necessário ter força para executá-lo. A partir desse pensamento aprendi a primeira lição: Lição 1 – TREINAMENTO DE FORÇA – Fazer barras, flexões, agachamentos, abdominais, etc. São essenciais para um bom desempenho no Parkour, use o próprio peso do corpo para executar esses exercícios.

Por muito tempo pratiquei um Parkour “estático”, ou seja, fazia um movimento e parava, depois executava algum outro e novamente parava... Foi então que aprendi a segunda lição: Lição 2 – RUN – Sempre que terminava o movimento continuava com o “Run”- tentava ultrapassar vários obstáculos sem parar e sempre mantendo a corrida. Foi no “Run” que aprendi a verdadeira importância da contagem dos passos para que um movimento fluísse.

Foi na lição 2 que aprendi a lição 3: PREPARO FÍSICO – Como emendaria vários movimentos em um percurso longo sendo que não tinha preparo? Comecei a correr 3KM... até chegar a 10KM, apesar de transpirar muito, meu VO2 (Preparo) aumentou significativamente.

Com algum tempo procurei aumentar os desafios, com precisões em lugares altos e estreitos, além de vaults em lugares mais distantes, foi então que aprendi algo que poucos dão importância – entra então a lição 4: A RESPIRAÇÂO – O controle da respiração ajuda muito na concentração, para mim é fundamental respirar fundo antes do movimento. Parece que nesse momento entramos em harmonia com o obstáculo.

Lição 5: NENHUM PLANO, NENHUMA CONCEPÇÃO – Lendo o livro do Samurai Miyamoto Musashi (O Livro dos Cinco Anéis), um trecho me chamou atenção, e comecei a refletir pelo ponto de vista do Parkour. Ele diz – “Nenhum Plano, Nenhuma concepção” ou “Munem Muso” – Significa a capacidade de agir calma e naturalmente mesmo em face ao perigo. Para ele é o mais alto grau de harmonia com a existência, quando o pensamento do homem e seus atos estão espontaneamente em consonância. Ainda não tive a oportunidade de vivenciar na prática a Lição 5. Treinamos movimentos de “fuga” (Vulgarmente falando), mas será que executaríamos com a mesmo calma e naturalidade, em uma situação de perigo? – fugindo de um Pitbull ou de uma gangue de ladrões por exemplo.



A lição 6: A FILOSOFIA DO PARKOUR – Aprendi que para começarmos a entender a “polêmica” e “dialética” filosofia do Parkour é necessário consultar quem a criou e mesclar com a realidade cultural da nossa sociedade. Mas antes surge a questão: Afinal o que realmente é filosofia? E inicio com a estranha afirmação – ela não é um saber nem uma doutrina – não quero dizer que ela não é um trabalho teórico. Ela o é. Mas acredito que não é um saber acabado, com um determinado conteúdo... não está estabelecido de uma vez por todas. Acredito que não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar (palavras de Kant). Belle diz sobre o PK: “(...)É dar um novo significado ao movimento (...) Sua filosofia é como nas Artes Marciais, porém, o oponente são os obstáculos ou você contra si mesmo(...) é superar a si mesmo e não se sentir sufocado com os muros ao seu redor, usar a cidade ao invés de deixá-la nos usar(...)etc.....” Eu posso dizer qual a minha intencionalidade treinando o Parkour, mas quem sou eu para afirmar qual a filosofia de um prática tão recente. A Lição 6 é na verdade o aprendizado que tive - aprendi que não sei praticamente nada sobre o Parkour, quanto mais aprendo mais questões surgem na mesma proporção...portanto, se até o criador do PK não teve uma resposta tão sólida, não ache que você tem respostas absolutas, seja humilde e respeite as opiniões de outros traceur(ses), mesmo que não concorde.

Essa foi uma pequena parte da minha trajetória no Parkour, o intuito deste artigo é fazer com que, principalmente, os iniciantes reflitam e não cometam o mesmo erro que cometi.

Abraço - RaphaGambit

sábado, 17 de abril de 2010

David Belle - Interview

Não é frequente que David Belle fale abertamente sobre o Parkour. Resolvi, nesse artigo, recolher e digitar algumas de suas entrevistas.
Muitos dizem: "Ele não é o Deus do Parkour", mas não podemos negar que ele foi o precursor dessa prática (mesmo apesar das influências).... Eu sou um dos "Bellista" que acredita e segue seus ensinamentos (ou pelo menos tento)... Espero que esses textos inspirem pessoas que, assim como eu, praticam o Parkour de uma forma livre e democrática.... um abraço a todos os Tranceur (ses) de todo o Mundo!



Interview 1

O Parkour é um método real de treino para encarar obstáculos. É ser forte para ser útil. O objetivo é treinar pensando - “o que posso fazer como isso?” No Verdadeiro Parkour, não há mortais. O objetivo é manter simples, eficiente e treinar movimentos nos quais você pode confiar.

Quando você está treinando Parkour, tudo na sua frente é treino. Quando você começa nos primeiros 2 ou três anos você não para. Dia e noite, sempre que você vê algo vai querer escalar, porque você sabe que é assim que constrói o seu treino. Então, como o tempo, quando você fez praticamente tudo o que havia para fazer, você sossega e vê o que falta. Nesse momento, é o “sentimento”, acontece que eu não treino nada por uma semana, um mês, dois meses e então por uma semana treino dia e noite.

Movimentos são simples, Saut de chats, catleaps, precisões, saltos de alturas, eu diria se você quiser saber as diferentes técnicas... mas o Parkour é a mistura de tudo isso. Você deve treinar queda em altura para treinar as coxas, precisões para ajudar a concentrar e você aterrissar em um pequeno corrimão. Concentração é muito importante. Correr para conseguir resistência. Parkour é uma mistura de tudo isso.

Fazer Parkour é basicamente esquecer o caminho que a sociedade traçou para nós é fazer o nosso próprio. Mesmo com as pessoas dizendo - “ Não, por aí você vai se machucar”, somos adultos e sabemos o que é perigoso. Uma criança, por exemplo , diga para ela não fazer algo, ela vai fazê-lo, mas coloque-a de frente para um grande vão... ela não é burra, ela não vai pular.

Quando estou em um topo de um prédio é como de eu estivesse no topo de uma montanha, eu não olho para a montanha, eu olho para o céu e me sinto confortável com a altura. Eu posso estar em um telhado em uma grande rocha: é o mesmo para mim. É a busca por altura, por liberdade, por fazer seu próprio caminho, onde ninguém nunca esteve: essa busca que torna o Parkour interessante.

O Jeito errôneo de fazer o Parkour é fazer para impressionar, não é um esporte de pular de lugares altos e mostrar às pessoas que você se machuca e não liga. Não. O objetivo é manter a saúde, respeitar o seu corpo, respeitar os outros, e não andar com um grupo se mostrando só porque é a nova modinha.

Meu irmão é um bombeiro, meu pai era um bombeiro e meu avô foi um bombeiro por 32 anos. Está na nossa família. É um pouco por eles também, meu pai esteve no Vietnã, depois foi para o bombeiro e me ensinou essa arte, eu transformei em algo mais definitivo : O Parkour.

O objetivo é se tornar cada vez mais confiante no seu corpo, e para isso Parkour é só um complemento. Meu conselho para os jovens tracers seria: é normal você querer ser alguém com 15-16 anos, mas quando você treinar Parkour com paixão, se for bom, as pessoas vão reparar em você. Portanto, não saia por aí dizendo – “Ei, olha a manobra que aprendi!” Não. Se for bom nós falaremos, faça o movimento somente para você. E daí se as pessoas gostam ou não, você primeiro deve se sentir bem fazendo. Se com esse espírito as pessoas te notarem, bom para você – mas você deve fazer para si mesmo.

No youtube: http://www.youtube.com/watch?v=XWneBIz6ATg




Interview 2

David Belle – “Eu Salto de telhados em telhados” – 2009

Parkour é um método de treinamento, que nos permite superar os obstáculos, tanto em ambientes urbanos quanto naturais. É sua arma disfarçada... nós treinamos... e se algum dia encontramos um problema, sabemos que podemos usá-la. Pode ser a arte de voar, perseguir, ajudar uma pessoa com dificuldade ou algo comum... Aconteceu comigo, precisei escalar até o segundo andar e ajudar um cara que esqueceu sua chave. É idiota, pois ele estava bem ali, e sabia que a janela estava aberta. Ele só precisava pegar a chave. Então pediu para mim : “Você poderia....” E eu : “ Claro que sim.” E então eu usei o que sei apenas pra abrir a porta dele. Mas se ele estivesse preparado, bem, isso não seria um problema. Eu creio que um dos resultados finais do Parkour é sermos totalmente autônomos em nossa vida. É ser capaz de fazer as coisas por si mesmo. “ E aqui estou eu... ainda não salto tudo isso, mas vou treinar pesado, repetir 50 vezes, pela manhã e pela noite...em um mês eu terei conseguido.” Isso é auto-conhecimento. Estabelecer objetivos e alcançá-los. Porque se não temos um, somos somente uma folha flutuando ao vento que não sabe onde vai parar. Mas quando você encontra uma razão, para o que está fazendo, mesmo que seja em outra área artística, e não necessariamente o Parkour, então você estará na Busca do seu significado. Sempre que me questionam sobre o Parkour, me perguntam : “Porque você faz isso? Qual o seu...?” E a resposta está escondida dentro da filosofia, ou da movimentação que você está trabalhando. Mas se você visse um macaco.. se o parasse no momento que esse estivesse saltando um galho, apertasse um “pause” e o perguntasse: “Porque você faz isso?” Porque esta se movendo?” Eu acredito que ele te responderia: “Porque você não está se movendo?.” A coisa mais impressionante no conceito do Parkour urbano é quando você percebe que aqueles são seres humanos, se movendo fora do seu objetivo padrão. É o caso do cara que construiu corrimãos nas escadas, ou então uma parede, ele não fez pensando em mim – “Oh sim , ele vai pular, essa é a distância correta, ou talvez...” – Ele simplesmente construiu.. e nós fomos lá e encontramos...um caminho. Como em um jogo, um jogo se sociedade...Você olha e enxerga o que é possível e não o que é impossível... E quanto mais bom senso você tiver, menos risco você corre. Quando você vive sob uma arte – e não importa o qual – e se você doa a ela, sua mente se abre para outras coisas, e ela faz com que você entenda melhor a vida. A medida exata..porque o excesso mata. Por isso eu carrego comigo o que meu avô dizia – “Você deve usar e não abusar.” Essas são frases que retornam à minha cabeça a todo o momento. Eu sempre repito: “Essa é a base”...”Assim me ensinaram.” Você não pode ser ignorante a vida toda. Você não pode usar seu corpo de qualquer jeito. Chega um momento em que você precisa seguir regras. Como as leis da física. E por mais que diga: “Sim , eu não tenho medo.” Você não vai se jogar de 10 metros. Então você é obrigado a seguir um tipo de treino. E é nesse estilo de treino que você vai poder dizer: “Legal, posso progredir por mim mesmo.” E compreender até onde está disposto a ir. Eu comparei o que meu pai me ensinou, com o que aprendi treinando e percebia que ele não tinha mentido para mim. Ele não me disse: “Vai lá David, pule daí. “Não tenha medo, não vai acontecer nada.” “Você não vai se ferir.” Ele me diria para ser cauteloso com o que eu estivesse fazendo. E que não deveria fazer certas coisas. Cara..no fim das contas eu devo tudo a ele. Não é fácil você ter um filho e assisti-lo saltando de um lugar alto, ficar parado e dizer: “É, foi bom, mas tente usar mais as pernas, porque nessa daí você não usou.” E ficar dando dicas para ele. Mas hoje em dia eu só escuto – “ Cuidado você vai se machucar!” Eu tenho q impressão de que o medo é transferido. Você pode inspirar coragem, mas também pode inspirar muito medo. E nós estamos em uma sociedade em que todos vivem com medo. Todo mundo tranca suas portas, todo mundo se estressa... como poderemos confiar em pessoas assim? E se hoje a nova geração tiver exemplo onde ela aprenda a ter um pouco de coragem, e confiança em si mesmo..eles serão os pais de amanhã. Então quando essa pessoa tiver os seus 30 ou 40 anos, serão pessoas que vivenciaram o Parkour e com ele aprenderam seus valores. Então eles repassaram seus ensinamentos para seus netos. Ao contrário de :“Isso não! Tome cuidado! Coloque um casaco! Você vai se resfriar! Não! Se for aí você vai cair!” Porque se for para ser assim é melhor todos se trancarem em suas casas e então nada acontecerá conosco. Mas a vida está lá fora. Se temos dois braços e duas pernas, é.... para sairmos e ver o que está acontecendo. E não para ficarmos trancados como se fôssemos árvores. Não há forte e fraco. O que hoje é importante.. é ter espírito para seguir até o fim as causas que você defende. Amanhã você entra numa briga ou acontece uma confusão, mas se a sua causa é boa, você sempre vencerá. Mesmo se fisicamente você perder. O cara que fisicamente te derrota e quebra tuas pernas, você pode dizer : “Verdade, você me venceu fisicamente, mas o que esta em minha mente você não atingiu.” “ Você não pode entrar nela e mudar o que está lá dentro.” Se eu disser para você que é assim, e estou certo que é, você nunca perderá. E isso é o importante. Então, agora, com o Parkour, você pode se machucar, ou o que for.... mas não é porque... mesmo eu, pessoalmente, posso me machucar treinando amanhã... isso pode acontecer sempre... mas apesar disso eu acredito nos mesmo valores. Porque mesmo os animais caem. Eles se “derramam”. Mas quando eles caem não é no concreto. É muito similar as artes marciais, no método de treino, na disposição em lapidar um movimento ou uma técnica. Então sim, você poderia dizer que ele se aproxima das artes marciais. Eu creio que trata-se da mesma filosofia, a mesma forma de aprender coisas. Olhar para um oponente e dizer: “Ok, esse cara é maior que eu, então tenho que atacar por baixo por causa disso ou daquilo...” ou “Esse cara é muito rápido, então vou tentar fazer isso...” Através do nosso oponente que adaptamos a nossa técnica. Nós sabemos no que precisamos ter cuidado, não importa se estamos em um combate de perto ou em uma luta no chão. Quando você se depara com um obstáculo é a mesma coisa – “E agora vou segurar naquilo, mas se escorregar o que eu faço ...Ok, ali.” Você aprende a analisar. É a mesma coisa, pelo menos para mim, é o mesmo mecanismo. Acho que o medo estará sempre lá. Mas chega um momento em que a sua confiança é tão grande, que quando está próximo de saltar, você diz: “Eu já fiz isso umas 500 vezes, e nessas 500 vezes nunca aconteceu nada. Porque é que agora estou preocupado em cair?”É que o medo nos faz perder a memória. É como o cara –sempre vou falar em combates – que treina apenas em seu clube, ele faz seus golpes o ano todo, treina sua rotina, até um dia se meter em uma confusão. Sente pressão por todo os lados, o oponente não é o seu professor e para este não importa que arte marcial você luta... o que ele sabe é que se não entregar a carteira ele estará encrencado..ele entra em pânico. Você quer dizer: “Hey, acorde...o que você aprendeu o ano todo?” “Você não treinou para esse momento?” “Sim, mas agora eu não consigo pois estou paralisado...” “Bom então você não aprendeu nada, foi inútil.” É mais ou menos assim, você deve treinar para que quando a necessidade real aparecer, você consiga agir. E quanto mais o seu treino aproxime da realidade, no dia em que tiver que confrontá-la, você não sentirá diferença. Porque realidade é quando você é confrontado com realidade. Quando se aprende algo no macio ou o que seja,e de repente fica sólido, ou quando se é atingido com luxas de borracha e pensa – “OH, que soco..” Não... o soco no rosto com as mãos, é de osso e não tem nada a ver com borracha. Quando sua cabeça leva um choque é você nem sabe onde está... Se nunca levou um soco na vida, nunca entenderá o que de fato é. Quando você doa à algo, você sabe os riscos e não é pego desprevenido, porque... “ Ah, sim é verdade. Eu fiz Parkour e torci o meu tornozelo.” “ Vou parar de treinar esse esporte porque ele é muito perigoso.” Você já sabia. Um caçador, ou um homem de uma tribo, ou o que seja, ele escala as árvores e claro que pode acontecer dele cair, mas para ele – “Nos temos que fazer isso para nos alimentarmos.” “Eu preciso escalar as árvores.” No momento em que você sai da sua casa, você já está correndo perigo, quando você vai ao metrô é perigoso. (...) Então vá lá e faça suas coisas, viva a sua vida e pare de viver com medo. (...) Não existe algo que te proteja totalmente dos perigos e dos riscos. A vida já é um risco permanente. (...) Pessoas que dizem: “Você viu? O Cara no muro da escola? Ele não deveria estar lá.” Essas pessoas te dão a impressão de que você está fazendo algo errado, mas você se pergunta: “Qual é o problema?” Se um gato estivesse ali, ou se um pássaro ali pousasse, vocês não iriam julgá-los. É um ser vivo, tem um coração batendo ali dentro. Então porque eu por ser um ser humano que sabe falar, você vem e diz: “Ei, você não pode estar aí, o que está fazendo nesse muro?” “Bom, não sei, e você o que está fazendo aí embaixo olhando? Se virasse sua cabeça para lá e seguisse seu rumo, com certeza não me veria. Eu estou te incomodando.Então siga o seu caminho.”(...) “ Se o que vai dizer é irrelevante para o que estou fazendo, viva sua vida.”

No Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=myuX_qQATa8




Interview 3

Você não fala muito, não ouvimos muito de você, mas te vemos muito no DailyMotion, na Internet, sobre o Parkour. Eu gostaria que você me explicasse do seu modo , o que é Parkour, o que ele significa para você pessoalmente, o que tem por trás dos movimentos.

David Belle – O Parkour representa tudo para mim, é uma arte na qual eu dedico corpo e mente. Porque veio do meu pai, e ele seu significado ao movimento para mim. Digo, eu já fiz atletismo, ginástica olímpica e eu me movia para ter um bom condicionamento, sem saber qual seria a utilidade para mim. E quando ele começou a me falar sobre o Parkour e suas qualidades físicas, eu entendi porque ele se move, porque ter braços, pernas.

Mas o que era o Parkour para seu pai?

Parkour é um método de treinar preparação física, perante obstáculos, no caso de você ter um problema, para proteger você, ou a sua família....

Então é “Parcours Du Combattant”?(Percurso do combatente – Corrida de Obstáculos)

É como “Parcours Du Combattant, mas... de certo modo mais urbano. E disso veio o Parkour Freestyle , onde você vê os caras dando mortais e coisas completamente inúteis, mas eu entendo, é como skate ou patins, na base, foi feito para incluir Freestyle, não tem um objetivo útil. Mas o Parkour é primeiro sobre a parte útil, ensinar as pessoas a confiarem em si mesmas, aprender a ser cuidadoso... alguns podem dizer: “Eles são loucos.”, mas nós somos bem mais cuidadosos do que alguém que caiu da escada por não prestar atenção, então pra mim, é uma arte em que aprendemos a sermos cuidadosos, e então quando você está confiante você vê pessoas dando mortais, pulando em todas as direções, é como uma extensão de.....

É uma arte marcial?

Na filosofia. A arte marcial é o confronto com os obstáculos. Na arte marcial você precisa lutar, machucar alguém, saber que você é forte. No Parkour, é o confronto com você e o obstáculo. Você contra si mesmo.

E porque a beleza dos movimentos não é tão importante quanto ao movimento em si?

Eu acho que a beleza do movimento reflete o amor que você põe no esporte. É expressão. Você não precisa se certificar que o movimento é bonito, quanto mais você fica a vontade com o movimento, mais bonito ele fica, assim como quando você vê um macaco ou um puma atravessando um rio você diz: “ Nossa, é linda!” , mas quando ele atravessa o rio não esta pensando em ser bonito, ele quer atravessá-lo, de acordo com suas próprias habilidades físicas. Eu acho que é com o tempo que os movimentos se destacam, mas você precisa trabalhar com a parte útil no início.

Então o objetivo é você se salvar numa má situação...?

É superar a si mesmo e não se sentir sufocados com os muros ao seu redor.

Usar a cidade ao invés de deixá-la nos usar?

Isso mesmo.

No youtube: http://www.youtube.com/watch?v=-qqG7b_ZCG4


Inteview 4

Porque você decidiu passar de um bombeiro para um ator/dublê?

Primeiro, depois de ser bombeiro, eu fui para o exército. Eu estava na infantaria dos fuzileiros. Foi uma coincidência parar nos filmes. Não era uma vocação. Não era algo que eu quis fazer desde pequeno. O que eu queria era tornar meu esporte conhecido: que Parkour se tornasse reconhecido. Meu irmão mostrou meus pequenos vídeos para a mídia, e eles se interessaram; o que me trouxe aos filmes. Mas atuar não era algo que eu queria fazer originalmente. Agora que eu estou no ramo, eu me divirto e não vou desperdiçar a oportunidade. Se existirem oportunidades para mim no cinema, eu vou aproveitá-las. Senão eu sigo outro caminho. No entanto, no momento eu não penso em fazer carreira nessa área. Eu estava feliz com o primeiro "13o Distrito". Era o suficiente poder contar aos meus filhos. Quando terminei de trabalhar no B13, eu disse a mim mesmo: "Mesmo que exista apenas esse, fico feliz, pois o Parkour me levou a fazer isso; poder mostrar Parkour para o público e me tornar conhecido". Enquanto ao resto, não fizemos planos do que vai ou não acontecer.

Você diz como se você mesmo não tivesse feito planos, como se tivesse tudo acontecido acidentalmente...

Mas foi isso que aconteceu! Eu nunca tive nenhum tipo de estratégia. Nunca tentei me vender para atuar no cinema. Nunca pedi por nada. Tudo começou com o documentário que foi mostrado na TV. A partir daí eu aceitei o que as pessoas ofereceram. Até a última coisa, o “Prince of Persia”, não fui eu quem pediu, foram eles que me contactaram enquanto estava gravando B13:U (B13: Ultimatum). Eles me ligaram umas 4 vezes, insistindo que eu trabalhasse com eles. Eu estava trabalhando em outro filme na época, então concordamos que eu iria trabalhar para eles nos meus dias livre. Parkour está sendo incorporado em tudo que é filme hoje em dia, sempre que tiver uma pequena corrida ou um salto eles usam Parkour. Percebemos isso claramente agora, os saltos estão diferentes.

Quais as diferenças entre se preparar para os saltos em um filme e seu próprio treinamento?

Eu faço a mesma coisa. Parkour - eu terminei com isso agora. As pessoas estão começando a se interessar nessa arte, mas eu já a explorei demais. Eu também tenho muito interesse em outras coisas. Quando alguém fala comigo sobre Parkour eu não vou dizer "tarde demais"; na maioria das vezes eu respondo "Você deveria ter vindo quando eu tinha 20 anos. Eu estava realmente motivado naquela época! Eu vivia Parkour a cada segundo da minha vida." Agora eu poderia aprender fazer música, tocar guitarra ou algo do tipo; o que importa é que eu quero aprender outras coisas. Parkour não é a única coisa na vida. As pessoas me dizem "Parkour é muito bom, eu preciso fazer!", eu tenho interesse em outras coisas também. Parkour é um método de treinamento que as pessoas precisam treinar porque te ajuda a se deslocar em ambientes urbanos ou naturais e a aprender a se adaptar a eles. No entanto, para mim, aprender coisas tipo cozinhar é tão importante quanto fazer Parkour. Saber como arrumar um carro, como ajudar alguém sofrendo um ataque cardíaco, etc. Para mim esses são os básicos da vida. Eu não sou como um velho artista marcial aos 80 anos que está sempre praticando os mesmos socos. É até provável que o cara nunca tenha lutado na sua vida e eu gostaria de dizer a ele "Pare de socar, relaxe, viva normalmente; aproveite sua vida". Porque há muita rigidez quando alguém se concentra demais em algo. E eu não quero acabar assim. Quando você pega seu diploma de primeiros socorros, você não vai salvar as pessoas todo dia. É mais "se algo acontecer, eu saberei o que fazer". Eu sempre treinei Parkour com a mesma mentalidade. Então que “se danem” aqueles que me dizem "Hey faça uma demonstração! Ou algo...", eu nunca treinei parkour para performance ou me exibir. Para mim, Parkour é algo pessoal. Aconteceu que ficou popular. Não fui eu quem o colocou na internet.

Foi esse o motivo do seu desentendimento com os Yamakasi ao levar Parkour para os filmes e shows?

Não. Mas quando penso nisso, não há problema com os Yamakasi. Eu só pratico o que meu pai me ensinou. Se você os ouvir, vão dizer que eles fazem algo que eles criaram. Nós todos vivemos no mesmo lugar. O grupo Yamakasi sequer existe ainda, todos saíram; agora é aquela coisa de “Majestic Force". Quando era Yamakasi, eles eram do tipo: Yamakasi, é o esporte", agora eles estão se aproximando do "PG Tips" porque esse projeto está funcionando bem. E eu me pergunto, porque isso? Tivemos um simples esporte, porque todos querem dar um novo nome? "É como o Parkour, mas é tipo aquilo chamado Free running..". Mas é Parkour! Quando você vai em qualquer país você diz "eu jogo futebol ou vôlei". O nome do esporte não muda. Então porque mudar o nome do Parkour a não ser que você queira fazer algo tipo de negócio e poder dizer "Eu sou o criador desse novo esporte, exatamente como Parkour mas que você pula numa perna só"? Mudar uma coisinha para dizer que você é o criador de algo e poder fazer algum dinheiro com isso. O objetivo do Parkour não é fazer dinheiro ou abrir um negócio. Não existe um objetivo financeiro por trás. Parkour deve ser ensinado para pessoas que querem aprender. Se eles não têm dinheiro não importa, porque você não precisa para praticar, só um par de bons tênis e pronto. Agora as pessoas dizem "Atenção! A academia vai abrir!" ou "Vai ter um centro de Parkour... " Mas eu, eu aprendi Parkour lá fora! O verdadeiro treino de Parkour é feito do lado de fora. Você pode fazer o que quiser com seus centros, colocar uns colchões, mas as pessoas vão sempre acabar indo lá fora.

Que necessidade o fez criar o Parkour?

Foi meu pai que me ensinou. Eu tinha visto e ouvido sobre muitas coisas que ele havia feito quando bombeiro - era uma verdadeira lenda. Eu queria saber sua história. Ou meu pai tinha um dom e nesse caso eu nunca poderia ser como ele, ou ele treinou para ficar tão bom e nesse caso ele provavelmente tem algo a me ensinar. Então eu percebi o quanto ele treinou. Ele treinava como eu nunca treinei na minha vida. Comparado a ele, eu sou uma criança brincando. Quando eu penso em todo o treinamento físico que ele passou eu penso "É esse o preço para ficar tão bom? Droga, é muito difícil!" Muitos pagam para ser treinados, mas eu reconheço que se qualquer um tivesse treinado com ele um só dia, nenhum jamais voltaria. É tão duro assim. Tantas pessoas tentam treinar de leve "Venha fazer Parkour! É muito legal!". Mas se amanhã você fizesse o verdadeiro treino, você acabaria chorando. É o que você precisa saber: Você vai chorar, você vai sangrar e você vai suar como nunca antes. Não vou mentir quanto a isso. Agora se você vem me dizer "Hey eu quero aprender Parkour, mas pega leve, eu não quero forçar muito", então vá fazer outra coisa. É para guerreiros. Um método de treinamento para guerreiros. Não é como se "Eu quero aprender a lutar; por favor, não me bata muito forte porque eu não gosto". Se for o caso, vá fazer algo diferente! Quer ser um verdadeiro guerreiro, você precisa passar por maus bocados.

Qual o uso do Parkour?

Fácil, nós temos duas mãos: é para pegar coisas. Podemos pegar coisas para nos deslocar. Podemos nos levantar. Podemos saltar e correr com nossas pernas. Podemos nadar. Instintivamente você sabe que pode fazer essas coisas. Quando você nada, sabe que está em você. Não é à toa. Você não é obrigado a se especializar nisso, como se tornar um especialista em escalada. Você ainda pode experimentar tudo e eu acho que é sobre isso que é a vida. Não se feche para nada e pense que você achou a verdade e compreendeu a vida. Muitos abrem sua mente por diferentes caminhos como música e pintura, assim como Parkour. "Como" não é importante. O que importa é abrir sua mente porque assim você ganha liberdade. Eu acho que quando você treina parkour, você percebe um pouco mais sobre o significado de liberdade especialmente no que diz respeito à sociedade. Ele realmente abriu minha mente. Mas isso não significa que irá ter o mesmo efeito sobre outra pessoa. O que é bom para um não é necessariamente bom para outro.

Qual a liberdade do Parkour?

Depois de um bom treino, e boa preparação física, sabemos exatamente do que somos capazes, e que podemos evoluir sem ser incomodado por outros. Ainda respeitando outros, mas não sendo incomodados por eles. Agora eu frequentemente preciso me justificar; especialmente com a polícia. Mas por outro lado eu os entendo, quando eles me vêem escalando coisas eles podem pensar que eu roubei algo. Existem vários momentos difíceis como esses; então penso em mudar para outro país como Tailândia ou mesmo a Inglaterra, qualquer lugar onde a polícia não é tão incômoda.

Até na Inglaterra?

Sim! Mesmo tendo muitas câmeras lá. A polícia sabe o que é Parkour. Enquanto na França eles ainda atormentam mesmo com o esporte desenvolvido aqui. Já faz 10 ou 15 anos desde que o Parkour começou a ser coberto pela mídia na França e ninguém sabe dele. Sempre fazem as mesmas perguntas repetidamente. Quando estamos na rua, é exatamente como há 15 anos quando tudo começou. Isso me frustra porque a percepção pública não evolui tão rápido quanto o Parkour. Se tivéssemos tido os recursos para criar algo bom - mas não temos. No momento todos estão tentando seguir seu próprio caminho, estamos andando em círculos; mas tudo poderia ter sido feito um bom tempo atrás! Não me surpreende se as coisas que eu gostaria de fazer apenas acontecessem quando eu estiver 60 anos e não puder me mover como hoje. O que gostaria de conquistar é algo melhor; algo mais perto das ruas. Talvez apenas um lugar onde podemos unir todos na rua. Gostaria de criar uma fundação e conseguir 500.000 ou mesmo um milhão de euros; com isso eu diria "Ok, vamos investir toda essa grana para criar esse lugar para o Parkour". Não vou dizer "Ok, legal, mas eu vou pegar um quarto disso tudo porque eu sou o fundador da disciplina". Não! Não vou pegar um centavo. Se conseguirmos esse dinheiro é porque as pessoas querem um lugar como esse. Então usamos esse dinheiro para criar esse lugar e pronto. Quando penso a respeito, com o dinheiro que fiz de filmes e outras coisas, o mesmo com os Yamakasi... Se tivéssemos nos unido, teria sido feito. Mas ao invés disso, cada um fez do seu jeito, brigando mais e mais sobre onde tudo começou, alguns nunca quiseram admitir que viesse tudo de um lugar - nós nos separamos ao invés de nos unir.

Original: http://www.urbanfreeflow.com/2009/04/18/david-belle-interview/


"Agradecimento a Raphael Koster pela entrevista e a Benjamim Mossé pela tradução..."








quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Caminho do Andarilho Solitário

Pesquisando sobre o samurai Miyamoto Musashi (1584 - 1645), descobri uma das suas obras primas - "O Caminho do Andarilho Solitário" ou "O Caminho da independência"(Dokkõdõ) . Esta obra foi escrita exatamente uma semana antes de sua morte no ano de 1645, ela é dividida em dezenove ou vinte e um preceitos, sendo o 4º e o 20º preceito omitido na primeira versão. Foi composto quando Musashi se preparava para sua morte e foi dedicado àTerao Magonojo - seu discípulo favorito.






Preceitos:

1. Não ignore os vários Caminhos que existem no mundo.

2. Não programe o prazer físico.

3. Não pretenda confiar em coisa alguma.

4. Considere a si mesmo com leveza; considere o mundo com profundidade.

5. Nunca pense em termos aquisitivos.

6. Não se lamente de sua vida pessoal.

7. Não inveje nem o bem nem o mal dos outros.

8. Não lamente partir por qualquer caminho que seja.

9. Não se queixe ou se torne uma pessoa amarga consigo ou com os outros.

10. Não se anime ao se aproximar da vereda do amor.

11. Não tenha preferências.

12. Não fomente esperanças para sua morada pessoal.

13. Não tenha preferência por alimentos deliciosos para si próprio.

14. Não carregue antiguidades passadas de uma geração a outra.

15. Não jejue a ponto de afetar sua saúde.

16. Embora o equipamento militar seja um assunto diferente, não se afeiçoe às coisas materiais.

17. Enquanto estiver no Caminho, não inveje a morte.

18. Não tenha a intenção de possuir objetos ou um feudo na velhice.

19. Respeite deuses e budas, mas não confie neles.

20. Ainda que abandone sua vida, não abandone sua honra.

21. Nunca se afaste do Caminho das Artes Marciais.




terça-feira, 13 de abril de 2010

Quem foi Raymond Belle?


Vejo no mundo do Parkour constantemente o nome David Belle ser citado, e muito pouco ouço sobre Raymond Belle durante os treinos ou as discussões sobre a prática. Sendo ele de fundamental importância para a "existência" do parkour, resolvi escrever esse artigo, mais como uma forma de homenagem, uma homenagem ao avó do Parkour.
Raymond Belle Nasceu no dia 3 de Outubro de 1969 e Faleceu em Dezembro de 1999. NAsceu em uma colônia francesa no Vietnã (Indochina na época), seu pai foi morto enquanto atravessava a Indochina. Em 1954 foi semparado da sua mãe, logo apos a divisão do Vietnã.

Recolhido então pelo exército francês, é incorporado como "criança tropa" - recebendo uma educação militar rígida - mas foi em 1958, com a idade de 19 anos, que foi repatriado para a França onde teve o seu percurso educativo militar concretizado. Essa educação o inspirou a entrar no regimento dos bombeiros saparadores de Paris.




Rapidamente Raymond vence diferentes campeonatos desportivos do Corpo de Bombeiro, inclusive os nacionais. Atleta emérito, ele integra a "Equipe Especial dos Monitores de Ginástica"- Equipe que realizava os salvamentos mais difíceis e arriscados.



Teve grande sucesso na primeira operação com Helicópteros (1969) na Catedral de Notre Dame, onde teve que carregar uma bandeira viet-congue e colocá-la no topo da catedral, cerca de 90 metros de altura.


Rapidamente, pela sua coragem , determinação e frieza, o Sargento Belle se tornou referência e uma inspiração entre os jovens - uma figura da época.
Inúmeros salvamentos, medalhas e vários títulos de glória, dão a Raymond a merecida reputação de "Salvador Excepcional".
Deixou a brigada em 1975... e faleceu em 1999. Mas sua memória e seus atos de bravura vão sempre ecoar como referências modernas e futuras.




Raymond Belle e o Parkour:
Se não fosse pelo Raymond, o Parkour talvez não existisse... pelo menos não da forma que o conhecemos. Mas sua influência estende-se muito além de ter um filho chamado – David Belle. Em sua educação militar no chamado “parcours Du combattant” (percurso do combatente) - que teve suas origens no método natural de treino – Raymond utilizava movimentos que os traceur(ses) de hoje consideram como base do Parkour.
Raymond transmitiu sua aprendizagem ( método natural e percurso do combatente) aos seus filhos – Jean François e David. Ele ensinou a seus filhos a serem fortes, pois dizia que um corpo fraco é inútil... deveriam ser forte para ajudarem a si, a sua família e a quem necessitasse. No entanto, Raymond não conseguiu transmitir tudo para David (o caçula), o restante dos conhecimentos foram ensinados pelo seu irmão mais velho – Jean François Belle. Informações que David acatou de maneira que hoje conhecemos como Parkour.

Curiosidade
Em memória à Raymon Belle, até hoje, em inúmeros quartéis, encontra-se um mural com sua pintura executando uma subida de corda.